MELO, Daniel – A Leitura Pública no Portugal contemporâneo : 1926-1987. Lisboa : Imprensa de Ciências Sociais, 2004. ISBN 972-671-137-1
A Leitura Pública no Portugal Contemporâneo (1926-1987) de Daniel Melo é uma obra de profunda relevância para o estudo em Portugal da temática da Leitura e Bibliotecas Públicas, ainda mais acrescida pela escassez de obras neste âmbito. Em muitas facetas (um lato estudo histórico, análise rigorosa de legislação, relações formais e informais inter e intra-instituições da área e não só, correlações estabelecidas entre o tríptico instrução-educação-bibliotecas, etc) a obra assume marcados contornos de pioneirismo e de excelência crítica em Portugal. Curiosamente esta obra foi realizada por um autor sem formação específica em Bibliotecas, mas já com uma expressiva carreira académica na área da História, que compreende o Doutoramento em História Moderna e Contemporânea em 2003, sendo actualmente Investigador Associado Sénior do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL). A Leitura Pública… é uma versão revista e resumida da sua dissertação de doutoramento, apresentada no ISCTE. Neste livro o estudo sobre a Leitura Pública evolve desde a instauração da Ditadura Militar (em 1926), passando pelo Estado Novo (formalizado em 1933) e pela IIIª República (1974-) até as primórdios (1985-87) da Rede Nacional de Leitura Pública, depois denominada por Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (RNBP), com base no modelo francês e nas directrizes do Manifesto da UNESCO. Verifica-se durante este lato período um largo espectro de tipos de bibliotecas presentes no território nacional (municipais, da Gulbenkian, populares, eruditas, especiais, escolares, ambulantes, a BN, etc.). Todavia podemos definir três modelos conceptuais principais de bibliotecas: do projecto nacional de bibliotecas de 1927, das bibliotecas itinerantes e fixas da Fundação C. Gulbenkian (FCG), e mais recente do modelo de biblioteca pública da RNBP. O modelo da FCG foi ao longo do tempo o de asserção cultural mais expressiva a diversos níveis, mormente na concepção de Rede Nacional bem como das linhas orientadoras da Biblioteca Pública moderna. No intuito de fornecer a visão mais objectiva e rigorosa sobre as concepções teóricas neste âmbito, o autor dirigiu o seu enfoque de análise sobretudo nos diplomas legislativos, Já no que concerne aos aspectos mais práticos optou por quatro componentes : “[I]análise de estatísticas sobre as bibliotecas portuguesas (especialmente quanto aos movimentos de leitura), bem como o seu confronto com o movimento de alfabetização (…); [II]baseada no inventário critico dos problemas que afectavam as bibliotecas, bem como das suas propostas bibliográficas (…) ; [III] análise crítica dos estudos e inquérito existentes sobre bibliotecas e leituras (…): [IV] do estudo do caso que serviu para abordar o contributo das biblioteca da FCG para a leitura pública”.1 Ao longo do livro são apresentados e analisados trinta e cinco estudos e inquéritos (entre 1923 e 1988) sobre a leitura, os leitores e as bibliotecas, delineando-se alguns perfis específicos destes. Bastante interessante prova ser um subcapítulo (de 15 páginas) dedicado a uma visão comparativa dos movimentos de alfabetização e leitura em Portugal ao longo do período focado no livro, fundamentado por inúmeras e pertinentes estatísticas. E o autor não esquece o papel marcante que a censura teve nestes processos. No último capítulo é realizado um estudo relativamente extenso sobre as bibliotecas da FCG (a evolução da sua implantação geográfica, os seus propósitos sócio-culturais, a acervo bibliográfico disponibilizado, os seus público-alvo, as suas relações com as biblioteca estatais, etc.), que tiverem um contributo basilar para a leitura pública em Portugal. “O seu projecto das bibliotecas itinerantes e fixas (lançado em 1958) consolida em definitivo a matriz municipal de uma estrutura nacional de leitura. Associando-se ao poder municipal e ao associativismo livre viabiliza uma política cultural sectorial dinamizada pela sociedade civil e assente nas comunidades locais mais desfavorecidas quanto ao acesso ao livro e à leitura.”2 Neste domínio ler o artigo “Leitura e Leitores nas Bibliotecas da Fundação Gulbenkian (1957-1987)” de Daniel Melo.
O autor entendeu efectuar um capitulo de conclusões onde em breves páginas nos fornece uma perspectiva global muito clara e inteligível deste problemática.
Um livro de imprescindível leitura na área, de elevado rigor académico e muito bem estruturado, e com recurso a uma linguagem escorreita que convida desde logo o potencial leitor a uma leitura mais prolongada.
1 Leitura Pública no Portugal Contemporâneo (Daniel Melo) – pág. 22 2 Imprensa de Ciências Sociais U.L.
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